terça-feira, 10 de março de 2009

Correspondência

"Nada poderia ser dito em pior hora. Por que logo agora?!", disse Mie ao ler a primeira carta de sua correspôndencia, ainda em seus pijamas-infantis-esburacados-estampados-de-estrelas. "Mal logo leio e já não creio que alguém em perfeito estado possa ter escrito algo assim, tão superficialmente refletor. Mas concluo, embora não possa dar à minha pessoa tão escandalosa luxúria, que tal mensagem (se realmente o é) deve ter alguma finalidade plausível e digna do tempo que posso levar nessa mórbida empreitada..." e, após decididamente refletir por alguns segundos, concluiu com desânimo: "...ou podem ter me pregado uma peça de mal gosto. Afinal, estamos na época mais certamente fértil para esse tipo de insulto", amassou o papel manchado na forma de uma bola desajeitada e o atirou na pilha de cadáveres que um dia fora sua família e agora jazia imóvel no chão limpo e brilhante da sala-de-jantar. "Eu tenho que parar de fingir que me escutam."

Um comentário:

  1. Procure por livros de Ana C. - A teus pés; inéditos e dispersos - se é que vc já não leu.

    []s

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