domingo, 31 de maio de 2009

Eu e mais alguém

É tão terno assim?
Te joga no abismo e só observa
cair, cair, cair.

É tão eterno assim?
Na mesma velocidade que vem, vai e não volta mais
só fica a cicatriz.

Mas são nessas míseras afirmações
duvidáveis que encontramos
algo com uma raspa de esperança
uma verdade como qualquer outra
só mais um motivo pra continuar passando
adiante mais um canivete cego
pra servir o próximo usuário
ou não.

domingo, 24 de maio de 2009

Paranoia Agent

Aos poucos você vai morrendo menos.
Não morre mais no final, nos vazios, onde falta algo, nas decepções, nos Boa Noite, nas desilusões, nos eu-te-amo, nos sermões, em tudo que deixou passar, nas últimas chances, em cada mau começo, no último píxel da TV desligada, nos Carpe diem, nos velórios e nos pedaços de Queijo Gouda desperdiçados em um maldito misto-quente-com-presunto quando tudo que você queria era comê-los com um copo de vinho doce que insistem em chamar por Suco-de-Uva. Não é como se não tivesse importância, duh (que já é quase, quase uma onomatopéia), você simplesmente vai morrendo menos.
Bom, é realmente aceitável, considerando que, desde antes de você entender uma palavra, já ficam te condicionando a aceitar que se morre uma vez e que disso ninguém corre. Asneiras. A morte anda junto com a cegueira, ou é uma ou outra, não poderia ser mais fácil escapar disso. Tudo é questão de aceitação!
Desperdiçam esse mundo simples, dado de mão beijada em bandeija de prata benzida pra espantar coisa ruim, os tolos e fracos de percepção básica. Até destruir tentam, com abstrações ou ilusões. Tudo dá no mesmo Esc.
Santo egoísmo de nós reles semimortais, roubando tudo pra cada um, dividindo com ninguém. Não fosse por alguns mais desavantajados, que se jogam no meio pra conectar alguma coisa, ainda estaríamos vagando pelas selvas brigando por um graveto flamejante (sem querer tirar o crédito dos edonistas ou da atual cunjuntura), a ponto de destruir até mesmo o Esc, que nada tinha que ver com isso.
Ainda assim procuramos torrar o nosso pouco todo infinito tempo do mundo com qualquer algo que nos convenha, pra não morrer de tédio. Um ou outro morre de tédio, alguns acabam por morrer ainda mais. Aí é que está o Gouda da questão.
Há certas vezes em que o discernimento falha, sem culpa alguma, e uma coisa é outra. E é aí que nos matamos, aos pouquinhos, cada pouquinho com sua mísera vez.
Vivem dizendo uns aos outros que têm algo com a morte. Responder que sim não seria hipocrisia, por mais que por pouco possa ser considerado eresia, algo que nos cerca não necessariamente nos atinje direta e indiretamente. Baboseira é o que não falta nesse fim, de novo.
Hoje durmo de ponta-cabeça, pra ver se amanhã me volta o juízo. Sempre tive umas inclinações ao masoquismo. Nada posso fazer contra isso. Infalível. A visão do outro lado de minha cama sempre me pareceu mais atraente, mesmo.

sábado, 23 de maio de 2009

Sujeira, estética e estática

Entre lentes e espelhos encontro meu nicho
-um pequeno espacinho só meu
todo ocupado por pleonasmo
e uma vibração de grito
ou seria sussurro
ecoando entre as quatro paredes

Desacredito: não sabe teto ou chão
contente com pão de água e vinho em pó
que mais poderia querer
não sei - se fujo ou se corro
só aqui não me permito muito mais
só por aqui.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Infindáveis

-Vê o outro lado?
-Não.
-Olhe com mais profundidade, então.
-A profundidade acaba quando chega ao outro lado. Não adianta ficar se esforçando nesse ponto... o mais interessante é uma observação mais rasa, plana...
-Não calam as bocas? Nem um de vocês está observando. Apenas me interrompem com essas observações sem base, sem tronco. Ajudariam muito mais com o silêncio.
-És jovem. Atenta ao que dizem-lhe os mais experientes.
-Informação o tempo traz, meu caro.
-Não sei de onde esse tempo tira tanto. Dá, dá e nunca termina.
-O que nunca tem fim é a tagarelice sem rumo de vocês.
-Enquanto não conseguirmos uma observação além não poderemos seguir. Não temos direção.
-Por que ainda não conseguiu ver, meu jovem?
-Por que é um espelho.
-Agora vamos rápido, o tempo é curto.

Andares

Sentado na janela de meu escritório olho o mundo de fora
trabalho em tempo integral não me deixa respirar
e os lá de fora tão livres e desorganizados
felizes formigas daqui de cima

domingo, 17 de maio de 2009

Devo a ninguém e pago quando puder

Não adiantam cobradores
que me admitem mais um ano ou noventa
e na fraqueza de seu ofício continuam a vir
mas nada vêem quando lhes passo mais um pré-datado
adiando assim a sentença para um dia mais à tarde
enquanto continuo desfrutando os livres prazeres
de um sem-fundo que dei logo de início

Mas a culpa não lhes é merecida
só esperam que a honra seja dada a alguém que não eles
e assim como eu continuem despercebidos
assim como eu
mesmo assim um pouco diferentes
não acham?

sábado, 16 de maio de 2009

Aidimim

"Papai! Papai!", gritava o menino ao pai, que lia o jornal como se nada mais no mundo fosse tão importante quanto as impressas letrinhas pretas no papel cinza-barato-reciclável.
"Papai!"
"Fala menino, fala rápido que agora não tenho paciência. Se não ler o jornal não sei o que está acontecendo."
"Uai, é só olhar pela janela que você descobre o que está acontecendo, Papai. Não precisa ficar lendo isso por tanto tempo todo santo dia."
"Você não entende, menino. Todos lêem o jornal. Se eu não ler, fico desatualizado."
"Por que não lê mais tarde? Por que logo quando eu ainda não fui pra escola?"
"Tem que ser agora. Mais tarde a notícia deixa de ser fresca."
"Por que vocês simplesmente não falam sobre outra coisa?"
"... o que é que você queria mesmo, menino?"
"Ah, eu desisto. Vou pro parquinho brincar com os vizinhos."
"Você só faz isso mesmo, hein."
"Não tem nada melhor pra fazer."
"Por que não lê o jornal?"
"Ah, pai, você não escutou o que eu disse?"
"Você disse um monte de bobagem, e não está me deixando ler."
"Você não entende..."
E não entende mesmo.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Mantikhoras

Minha luva pesa
presa por um elo indivísivel
a terra suga
por raízes
pra baixo
em sentido ao CENTRO.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Revolução

Exijo agora a diferença
entre I e l

Imbatível

Em um lugar diferente
com um novo regente
em meio a tão gasta gente
e um loureiro insolente
mais parece crescente
mas é mesmo indulgente
tão ingênuo-indiferente
o amigo do povo
revivendo denovo
velha casca de ovo
com espalda de fogo
na malícia da prece
descontente padece
mas isso não apetece
mais que isso merece
volta outro bundão
usando giriojargão
mais um grande gastão
raspa barba do não
limpa baba no chão
apessoado rapagão
e a peito de ferro
minha mira -não erro-
o maldito enterro
'pode voltar que tem mas
escroto de satanás'
que sorrindo aliás
cara boa não faz
volta logo assim
apontando pra mim
'agora é tua vez
pagarás pelo que fez
assim nenhum de vocês
volte a ser descortês
ou vira freguês
do eterno enjôo
assim o amaldiçoo
vai-te embora e não regressa
vai agora com pressa
tua sentença é essa'
e vou eu cambaleante
um eterno amante
pra nunca mais relevante
ousar algo gritar.

Roubaralmar

Eu tenho uma alma de fogo
não dá pra me desalmar
O frio de tuas mãos | eu vi | pra roubar

O mundo esfria de novo
me trata até como estorvo
e não me basto pra amar

Com esse olhar de vidente
-não tenho dados pra jogar-
parece até que sou crente

E quando eu for te buscar
usando um novo jargão
devolverei teu coração

Sonho deserdeiro

Sonhei com uma estrada de tráfico intenso
~
do outro lado
~
uma menininha aflita por perceber que não é capaz de atravessar
~
me joga na nostalgia de alguém
~
que vira o mesmo sorrizo de atravessar encarando
~
em rua escaldante com cerca e areia deserteira invadindo
~
sem plantas, sem céu
~
só sorrizo-nostalgia-deserto-estrada
~
de uma imagem dividida
~
pregada com grampo forte mais à frente do que deveria.

Autoria

Se ensinei meu cachorro a usar o jornal
-não saio me cagando por esquinas-
adubo só no meu jardim.