segunda-feira, 22 de junho de 2009

Memorial

Hoje resolvi que apagaria as fotos da memória do meu celular.
O pobre coitado já não se aguenta mais. Um dos bugs mais recentes é o sinal ficar sumindo com uma frequência irritante, sem motivo que eu possa observar.
Quando entrei no menu de opções das fotos, observei as primeiras e tive uma pontada de nostalgia. Me impressionou como tantas imagens aparentemente vazias podiam significar tanto, trazer várias memórias que há muito estavam encaixotadas em um cantinho escuro que ninguém olha. Cada foto mostra um instante que lembra um momento que se liga a vários acontecimentos que formam uma história.
Se o senil V3 caísse em uma poça de barro, em uma privada, em uma piscina, da janela do quarto andar de um prédio, da varanda da Sofia, na rua quando abrisse a porta do carro, em um copo cheio de bebida ou até mesmo na fogueira de um luau, provavelmente demoraria muito para que alguma daquelas cenas viesse me cutucar. Havia até a possibilidade de que alguns daqueles momentos nunca mais fossem lembrados.
Interessante como memórias são frágeis se não salvas de algum modo. Algo que não aparece na memória de alguém e não deixou algum outro tipo de marca na sociedade de convivência é inexistente.
Cruel, arrisco opinar. São tantas lembranças doces, acontecimentos importantes, fortes emoções... Tudo à mercê da memória social.
Por estes sentimentos, não consegui apagar as imagens.
De qualquer forma, tenho de me desfazer do celular. Falta menos de um mês para que eu embarque em um aconchegante avião de viajens internacionais da TAM e, após algumas horas de filmes e jogos no meu PSP, saia para um ano na alemanha.
Pensando assim, resolvi registrar as fotos que julgo mais relevantes aqui.
Foto 1ª:
06/08/08
Um boneco-mosaico feito pela minha irmã mais nova com pedras da beirada da pista de corrida da UFES. Me lembra minha época de atleta, quando eu treinava atletismo e fazia exercícios livres todos os dias com meu treinador Antonio como supervisor.
Foto 2ª:
23/08/08
Uma foto da multidão de candidatos na porta da EPCAR [Escola Preparatória de Cadetes do AR], em Barbacena-MG. Me lembra a época em que eu pensava em seguir carreira militar. Nesta mesma viajem decidi que não era com aquilo que eu seria feliz. Passou perto, mas decidi em tempo.
Foto 3ª:
05/09/08
Nina tocando violão no sofá azul e fofão de seu apartamento bacana na Praia do Canto, sentada no colo de Sofia e Guilherme.
Carla é o nome do violão.
Saudades da nina.
Isso tudo foi pouquíssimo tempo depois de que conheci as pessoas que vieram a se tornar um dos grupos mais importantes da minha vida.
Foto 4ª:
05/09/08
Tirada alguns segundos depois da 3ª, essa mostra Leandra sentada no chão enquanto observa, com os olinhos brilhando, Nina tocar.
Foto 5ª:
08/09/08
Guilherme e Nina no banco da Pastelaria.
Nina acaba de derramar chocolate quente e se lambuzar toda, típico.
Guilherme para de tocar violão pra rir e fazer alguma observação sarcástica, típico.
Naquele dia consumimos um chocolate quente do Café do Canto (foi consumida uma parte, a maior parcela foi pra perna da Nina) e um suco de manga da Pastelaria. Hahaha.
Foto 6ª:
08/09/08
Problema do chocolate quente resolvido, todos cantando enquanto Guilherme toca. Yay! Hahaha.
Foto 7ª:
08/09/08
Indo embora, Leandra com cinco sachês de Ketchup que ela pegou. Hahaha.
Foto 8ª:
14/09/08
Vitória vista do topo do Mestre Álvaro. Minha prova final de esforço físico com Treinador Antonio.
Foto 9ª:
27/09/08
A caneca de vaquinha do Café Bamboo. A única vez que tive grana pra tomar uma mocha branca tripla!
Foto 10ª:
17/10/08
A praça do teatro da FAAP, em São Paulo, no dia em que fui assistir Hamlet (representado por Wagner Moura).
Naquela viajem fui a duas peças por dia. Foi massa. Hahaha.
Foto 11ª:
31/10/08
Lívia tocando violão no chão da sala de seu apartamento no Ed. Arthur Gabriel.
Nesse dia eu e Pedro fomos lá 11:30pm pra escutá-la tocar piano. Ela tocou um pouco pra gente e, depois, ficamos tocando violão e batendo papo até tardão. Eu amo essa menina, hahaha.
Foto 12ª:
31/10/08
Lívia dando um sorrizo.
Foto 13ª:
01/11/08
Jude no Café Bamboo, exibindo um dos quebra cabeças como um troféu. Ela ficou realmente feliz de ter conseguido montar. Hahaha.
A convidei pra ir comigo a uma festa a fantasia no mesmo dia. Ela foi e me deu um fora. Hahaha, toco.
Sempre que penso em Toco lembro da época em que eu jogava basquete, muito divertido.
Foto 14ª:
03/11/08
Joana sentada apoiada na parede de seu quarto, eu costumava ir muito lá.
Foto 15ª:
09/11/08
Galerão assistindo filme na minha casa. Foi divertido. Caiu um temporal horrível e ficamos à luz de velas por horas.
Foto 16ª:
10/11/08
Olho tema do sarau de poesia do Primeiro Mundo. Foi péssimo. Ri muito.
Foto 17ª:
16/11/08
Uma foto da placa da Avenida Hugo Musso, em vila velha. Tenho um amigo que tem um irmão com o mesmo nome.
Foto 18ª:
24/11/08
Monkey com um guardachuva de velório aberto no meio da aula do Pré-Cefetes. Bons tempos.
Foto 19ª:
26/11/08
Rodrigo, um garçon que durou pouco no Café Bamboo, com uma pilha de sete caixas vazias de Tic Tac sabor laranja.
Foto 20ª:
29/11/08
Meu recorde em caixas vazias de Tic Tacs sabor laranja empilhadas. Dezesseis.
Foto 21ª:
03/12/08
Botti (ainda com cabelo) usando a foto da boca desgraçada do maço de cigarros em frente à sua. Muito massa!
Foto 22ª:
20/02/09
Gutierrez dormindo e babando o travesseiro enquanto iamos pra corumbau. Hahaha.
Foto 23ª:
01/05/09
A de Anarquia feito com palitos de fósforo usados, em uma mesa do Cochicho.
Foto 24ª:
12/05/09
Alberto's cow.
O menino colocou "Milk the chiken" em um exercício e, depois, desenhou uma vaca colocando ovos. Tive que registrar isso!
Trabalhar no NASH foi muito demais.
Foto 25ª:
23/05/09
Show da banda The Singles na festa da Santa Rita. Foi muito bom.
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E acabaram minhas memórias. Entende?
.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Redenção

Que me faça aos pedaços e polvilhe à areia
me cerre o peito e arranque a alma
amarre os pés e costure a boca
pois mesmo os olhos não alcança:
aprenderam eles a gritar.

Mayonaise

Incrível como entendem errado quando colocamos à mostra a memória mais doce.
  • O entendimento não costuma causar-me falta de sono.
Os relatos me decepcionaram.

Apagados.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Fruto Proibido

-A árvore bebeu meu sangue até secar e cair.
-O fruto tinha gosto de fogo e o galho caiu em meus ombros.

Agora já não tenho areia
não tenho braço, não tenho língua
não me sobra dúvida e a sombra acabou
fico pra apodrecer no sol, sem sede e faminto.

Não me vou com tão pouco
me negam céu, inferno e purgatório
o castigo é absoluto e o julgamento comprado.

"Pai, por que negas tua mão?
Me rejeitas por comer teu fruto?"
"Comeste a si mesmo e não me podes aceitar.
Fica aí onde és passagem, preso às pegadas por não bastar a ti o eterno."

-Meus olhos arrancaram e meu sangue jorra pelos vazios.

Minha carne os abutres rejeitam,
aceitam a do sacrifício
eternos fieis ao pão e à sede.

Amolam as facas os açogueiros
vendem meus rins como picanha
meu estômago como rabo e intestino como diamante
e assim satisfazem meus companheiros
barriga cheia não abre a boca enquanto redutor de apetite amacia a língua.

Passa o tempo e em mentira talham minha sepultura
"Em vida, poeta e sonhador. Sua marca no mundo por nós não será esquecida.
Agora descansa debaixo da terra.
Que nosso senhor tenha piedade de sua alma."

Pra minha cova é que não volto
prefiro rastejar eternamente em chão frio por cortarem minhas pernas
-Insistem em me deixar deitado.
e minha condição é essa, esconderam-me a escolha.

Como então com os vermes até que me abraçem e me tornem um deles
então vem a vingança
Então resto, é silêncio.

Temporal

O homem faz a era e a era fez o homem
também fez dúvida e também fez vida
dizem sobre isso os antigos
que música é poesia
mas a poesia é estúpida e a música oca.

Repetência

Um velho labirinto é tudo que me sobra
de caminho marcado e outro vazio

Fico então no escuro
me atrais mais que o eterno circular

Encontro então pegadas antigas
e me pergunto se será diferente o final

Percebo tarde a semelhança
e penso se são mesmo de outros

Não, não podem ser
é só vicio em dupla pisada e uma vista exausta.

O mar e o bandido

Pescadores amadores adoram seus senhores
contando estórias de sereias e arpões
com garrafas de rum e as redes cheias:
A festa vai até queimar o horizonte.

Adaga na bainha, presa ao cinto
tratado de paz entre os amigos
sobrando o medo de infames piratas
violadores de donzelas e ladrões de riquezas
que, por sua vez, camuflam na multidão
com tantas cicatrizes quanto monstros no mar.

E continuam os malditos
matando e estorquindo com recitais roubados
de viajens e pesqueiros épicos
epitáfios de velhos homens do mar.