-A árvore bebeu meu sangue até secar e cair.
-O fruto tinha gosto de fogo e o galho caiu em meus ombros.
Agora já não tenho areia
não tenho braço, não tenho língua
não me sobra dúvida e a sombra acabou
fico pra apodrecer no sol, sem sede e faminto.
Não me vou com tão pouco
me negam céu, inferno e purgatório
o castigo é absoluto e o julgamento comprado.
"Pai, por que negas tua mão?
Me rejeitas por comer teu fruto?"
"Comeste a si mesmo e não me podes aceitar.
Fica aí onde és passagem, preso às pegadas por não bastar a ti o eterno."
-Meus olhos arrancaram e meu sangue jorra pelos vazios.
Minha carne os abutres rejeitam,
aceitam a do sacrifício
eternos fieis ao pão e à sede.
Amolam as facas os açogueiros
vendem meus rins como picanha
meu estômago como rabo e intestino como diamante
e assim satisfazem meus companheiros
barriga cheia não abre a boca enquanto redutor de apetite amacia a língua.
Passa o tempo e em mentira talham minha sepultura
"Em vida, poeta e sonhador. Sua marca no mundo por nós não será esquecida.
Agora descansa debaixo da terra.
Que nosso senhor tenha piedade de sua alma."
Pra minha cova é que não volto
prefiro rastejar eternamente em chão frio por cortarem minhas pernas
-Insistem em me deixar deitado.
e minha condição é essa, esconderam-me a escolha.
Como então com os vermes até que me abraçem e me tornem um deles
então vem a vingança
Então resto, é silêncio.
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